O INFERNO DE MINHA POESIA

...sou o inferno de minha poesia
que gostaria de ser seca
e impessoal como a da "Salomé
das vossas letras"
o tal de Melo Neto: João Cabral...

Falo sério, leitor, os meus versos,
se pudessem, se tivessem
a independência verbal
que tanto almejam,
além da vontade própria
que eles, os tais versos, de fato,
têm mesmo,
expulsariam do seu corpo vernacular
todos os dados que me dizem
autobiograficamente respeito...

Desde o abutre simbólico
que devora-me literalmente
o fígado metafórico,
até a cinza quase literal
dos neurônios perdidos
que, uma vez queimados,
infelizmente não se recompõem jamais...

Isto sem mencionarmos aqui
o desejo frustrado de expelirem
dos seus próprios corpos verbais
as viscerais apropriações
familiares de que me utilizo
para compor as imagens poéticas
que denomino, arbitrário e confessional
de papai... mamãe...
personagens estes que infelizmente
não são, ai de mim, assim tão alegóricos
quantos eles (o papai... a mamãe...)
neste ácido, corrosivo e convulsivo contexto
gostariam de ser...


José Lindomar Cabral

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