PARA NÃO RIMAR AMAR COM ALMÓDOVAR
... só depois de haver adquirido maturidade
(aquisição esta alcançada antes de conquistar algumas rugas,
sim rugas são conquistas)
foi que pude então compreender
que amar não é coisa de meninos, quer dizer,
não é brinquedo, haja vista que o amor queima mesmo
qualquer um que, amando, não esteja preparado
para lidar com o fato consumidor de que o amor, ao contrário
da paixão que não for segundo G.H., é fogo eterno,
perpétuo e não uma efêmera chamazinha
que permanece infinita somente enquanto
dura a efemeríssima palha fumacenta que a alimenta,
uma vez que confessar, por exemplo,
“deixei de amar fulano(a)”
não passa de uma eufêmica e anestesiadora expressão
por meio da qual o sujeito procura proteger-se
da dor que emana da compreensão apenas inconsciente
de que o amor que o inspirara a amar alguém
em vez de haver se extinguido, na verdade, acabou
achando-o aquém, leia-se, verde demais para a missão
de alar e desatar o outro, e por isso imigrou de corpo
a procura de um coração desatado e/ou preparado
inclusive para usar suas próprias cordas
de maneira que as mesmas pruduzam harpejos,
não amarração, entenda-se, um coração apto
para não rimar amar com Almódovar,
ou seja, para não rimar amar com atar...
José Lindomar Cabral
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