LÍNGUA DE PAU E PALATO DE PEDRA
... quando escrevo
(e só raramente Eu Prometeu acorrentado
a este Cáucaso chamado escrivaninha
não estou a escrever, digo, a ver meu fígado
sendo dilacerado pelo abutre transmetamorfo
denominado caneta, me rapinando
vulgo escrevendo, escrevendo, escrevendo)...
Porém, como estava dizendo:
quando escrevo,
costumo fazer tão convincentemente
de conta que tenho língua de pau
e palato de pedra
que as estrelas que outrora haviam
eufemisticamente no céu de minha boca
foram reduzidas, faz tempo
a pó estelar quase que propriamente dito
pelo impacto seco e replicante
da língua dura e ritmada
a bater secamente de encontro
ao referido, concreto, desestrelado
e eufêmico firmamento...
José Lindomar Cabral
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