ELA VAI AOS DESESSEIS


Ela vai. Tornozelos grossos, penugem dourada. Ela arrebenta.

Ela vai, aos desesseis, fazendo fila. Passa por todo mundo. E segue.

Bate o burocrata que a quer fazer legal. Dribla o plutocrata que a quer só para dele.

Ela vai, aos desesseis, fazendo a festa. Dos que a querem acompanhar.

Dança com o mendigo. Bebe com o maluco. Mexe com a torcida.

Ela vai, aos desesseis, fazendo o fino.

E desberlota a mãe que a quer só pra ela. E desarvora o pai que a quer mais para ele.

Ela vai, aos desesseis, satisfazendo fundo. Os que a tiram pra dançar.

E descabela o palhaço do garoto que a toca com cuidado.

E desenrola a bandeira da menina envergonhada que cresceu

E desentoca o bagulho que agora virou a bela e a fera

Ela vai, aos desesseis, se fazendo nesse mundo. Junto com quem quer

Escrever a vida por linhas tortas e versos trôpegos

Cutucar o tempo com seu passo insinuante sideral

Executar o solo mais elétrico nesse palco

Vociferar palavras estilhaçadas no vento

Ela vai, com oito em cada perna e o infinito pelos poros.

Ela vai, aos desesseis. Enquanto você pensa, ela já fez.

chacal

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